Olhei-o com desdém. Ostentando um meio sorriso de
desprezo, o rosto dele mostrava-se indiferente aos pensamentos que eu acabara
de compartilhar. Arrependi-me amargamente por ter permitido que ele soubesse.
Desejei poder retirar o que disse, mas quando se fala por impulso, muito se diz
e pouco se aproveita.
– Você é tão idiota! – dissemos ao mesmo tempo, depois de
um longo período de silêncio e pensamentos atordoados.
O rosto indiferente transformou-se em um esgar de fúria,
e a respiração ficou entrecortada. E então eu notei que também respirava com
dificuldade. Era como se nós dois tivéssemos aceitado o insulto, não podendo
lutar contra uma verdade tão palpável. Mas, ainda assim, não nos detemos. Falamos
ao mesmo tempo e em altos tons, numa discussão duradoura. E, ao fim dela, encaramos
um ao outro com ar de superioridade. Quem vencera, não sei dizer: provavelmente
ninguém. Porém, era sempre eu quem cedia primeiro. Encarando aquele rosto
intransigente, desisti de me fazer entender. E nesse instante, sem conseguir me
entender comigo mesmo, guardei o espelho e voltei para a cama: obrigado a dormir
de mal comigo mesmo. Maldito seja aquele psicólogo da TV, que me fez brigar com
a única pessoa com quem eu me entendia!
Adorei. Transmutar entre o intimo do pensar e o reflexo "real" foi uma sacada genial.
ResponderExcluirOlá! Agradeço muito pelo comentário e pela gentileza!
ExcluirVolte sempre que puder; obrigada pela visita...
Abraço!