segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Das incoerências


Olhei-o com desdém. Ostentando um meio sorriso de desprezo, o rosto dele mostrava-se indiferente aos pensamentos que eu acabara de compartilhar. Arrependi-me amargamente por ter permitido que ele soubesse. Desejei poder retirar o que disse, mas quando se fala por impulso, muito se diz e pouco se aproveita.
– Você é tão idiota! – dissemos ao mesmo tempo, depois de um longo período de silêncio e pensamentos atordoados.
O rosto indiferente transformou-se em um esgar de fúria, e a respiração ficou entrecortada. E então eu notei que também respirava com dificuldade. Era como se nós dois tivéssemos aceitado o insulto, não podendo lutar contra uma verdade tão palpável. Mas, ainda assim, não nos detemos. Falamos ao mesmo tempo e em altos tons, numa discussão duradoura. E, ao fim dela, encaramos um ao outro com ar de superioridade. Quem vencera, não sei dizer: provavelmente ninguém. Porém, era sempre eu quem cedia primeiro. Encarando aquele rosto intransigente, desisti de me fazer entender. E nesse instante, sem conseguir me entender comigo mesmo, guardei o espelho e voltei para a cama: obrigado a dormir de mal comigo mesmo. Maldito seja aquele psicólogo da TV, que me fez brigar com a única pessoa com quem eu me entendia!


2 comentários:

  1. Adorei. Transmutar entre o intimo do pensar e o reflexo "real" foi uma sacada genial.

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    1. Olá! Agradeço muito pelo comentário e pela gentileza!
      Volte sempre que puder; obrigada pela visita...
      Abraço!

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