sábado, 22 de dezembro de 2012

Me deixa


Deixa a chuva me guardar, quero que a água afaste as tristezas e desfaça os desertos. Deixa os oásis brotarem, deixa. Deixa o vento me levar até as mágoas ficarem longe demais para o alcance da lembrança.
Deixa eu ficar sem ar um pouco, pra respirar fundo novamente. Deixa eu perder a conta das risadas e poder contar ao mundo sobre elas. Deixa eu ficar cansada, deixa. Deixa eu ter o prazer de repousar em meu descanso sereno; e voltar pra rotina quando for a hora certa.
Deixa eu ficar sozinha, quero transbordar os cálices que estão pela metade. Deixa eu deixar de ser só um pouquinho, deixa. Deixa meu muito ser tanto, que derrama. Deixa meus dilemas se inverterem. Deixa eu me cobrar tanto, até ter que pagar à prazo.
Deixa meu autogoverno ser soberano de mim. Deixa eu me entender com meus desagrados. Deixa os exércitos irem pra guerra, deixa. Deixa eu lutar com tudo o que me convém. Deixa eu tocar a vida com as notas que quiser. Deixa o desapego ir desapegando de mim, até que me console uma ternura sem fim.
Deixa o depois ser agora. Deixa eu me render diante da felicidade. Deixa eu desdizer o que já disse, pra deixar as coisas mais bonitas. Deixa eu sonhar até depois do limite com as impossibilidades, deixa. Deixa eu enfeitar a realidade com ficção.
Deixa, deixa sim. Deixa, que agora eu quero menos dos outros: mais de mim.


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