Deixa a chuva me guardar, quero que a água afaste as
tristezas e desfaça os desertos. Deixa os oásis brotarem, deixa. Deixa o vento
me levar até as mágoas ficarem longe demais para o alcance da lembrança.
Deixa eu ficar sem ar um pouco, pra respirar fundo
novamente. Deixa eu perder a conta das risadas e poder contar ao mundo sobre
elas. Deixa eu ficar cansada, deixa. Deixa eu ter o prazer de repousar em meu
descanso sereno; e voltar pra rotina quando for a hora certa.
Deixa eu ficar sozinha, quero transbordar os cálices que
estão pela metade. Deixa eu deixar de ser só um pouquinho, deixa. Deixa meu
muito ser tanto, que derrama. Deixa meus dilemas se inverterem. Deixa eu me
cobrar tanto, até ter que pagar à prazo.
Deixa meu autogoverno ser soberano de mim. Deixa eu me
entender com meus desagrados. Deixa os exércitos irem pra guerra, deixa. Deixa eu
lutar com tudo o que me convém. Deixa eu tocar a vida com as notas que quiser. Deixa o desapego ir desapegando de mim, até que
me console uma ternura sem fim.
Deixa o depois ser agora. Deixa eu me render diante da
felicidade. Deixa eu desdizer o que já disse, pra deixar as coisas mais bonitas.
Deixa eu sonhar até depois do limite com as impossibilidades, deixa. Deixa eu
enfeitar a realidade com ficção.
Deixa, deixa sim. Deixa, que agora eu quero menos dos
outros: mais de mim.
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