terça-feira, 2 de outubro de 2012

Solidão



Andava sozinho pelas ruas desertas da madrugada. Nem sequer conseguia encontrar um motivo sensato para explicar sua súbita vontade de caminhar no meio da noite, depois de acordar de um pesadelo. Mesmo assim, foi.
Lembrou do sonho. E chorou baixinho, mesmo sabendo que ninguém o escutaria, ainda que fizesse barulho. A cidade dormia. As pessoas dormiam. Os prédios dormiam. E a vida, sonolenta, arrastava-se de um jeito que beirava a hipocrisia: divertindo-se dos dias sarcásticos que ele atravessava sem entusiasmo.
Olhou para o céu com indiferença, e um enorme pingo de chuva atingiu-lhe a testa. Era o primeiro, dos muitos que o sucederam. Em poucos segundos, a rua foi acometida por uma tempestade repentina. E, sem guarda-chuvas e sem casaco, a opção era voltar para casa; onde ninguém esperava seu retorno. Onde ninguém notara sua partida. Onde ninguém se lembrava dele.
Mesmo morando com os pais, estes lhe eram estranhos. Mas estranhos diferentes: desses que incomodam. Ainda que acompanhado, era sozinho nesse mundo. E o pecado que cometeu para merecer tal punição foi esse: tentar ser ele mesmo. Quando o dia amanheceu, ele foi dormir. E nunca mais voltou a acordar.
Verdadeiramente, dos venenos desse mundo, a solidão é o mais mortal.

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