No fim das contas, acabei sentando sozinho e quase imóvel
num banco desconfortável. As pessoas passavam, murmurando coisas entre si. Mas eu
sabia o que estavam dizendo, aqueles desalmados! Diziam “Coitadinho, ele ainda não
entende essas coisas!” ou “Pobre garoto, nem sabe direito o que está
acontecendo!” – era isso o que sussurravam, pode ter certeza. O que se passava
em suas mentes medíocres? Será que por que eu tenho sete anos, estaria menos triste
que os adultos?
A roupa preta em que me puseram quando acordei pela manhã
já estava me zangando. E todos aqueles tios barrigudos e tias velhas e
solteiras insistiam em dizer que eu tinha crescido muito. E que estava bonito. E que
era uma pena o papai não poder ver-me crescer ainda mais. E que ele estaria
orgulhoso. E que eu tinha de ser um bom menino para ajudar a mamãe. E, o que era mais irritante, teimavam em apertar minhas bochechas e proclamar em altos tons que eu era a coisa mais fofa do mundo ou algo do tipo.
Gente que eu nem conhecia vinha me dar os pêsames. Eu nem
cheguei a perguntar o que era isso e para quê servia, não fazia a menor
diferença. O que importava era que o papai estava dentro daquele caixão lá na
sala, cercado por velas e por pessoas: dessas, que lá no fundo – bem no fundo, mesmo – estavam indiferentes à dor da mamãe, que chorava debruçada sobre o corpo inerte
do marido.
“Tão jovem”, diziam, “Tinha uma vida inteira pela frente”,
suspiravam, “Mas está em um lugar melhor agora.” Até cheguei a acreditar nisso,
de tanto que repetiam. Mas então fomos ao cemitério e enterram o papai. Quando começou
a chover, todos foram embora: menos ele. Ficou lá, embaixo da terra, sendo
molhado pelo enorme aguaceiro que caía do céu. E ninguém se importou. Nem mesmo
a mamãe.
Aquilo não era um lugar melhor. E, se foi lá que terminou, então meu pai tinha sido
muito mal. E acabou no inferno.
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