Quando o relógio digital marcou quatro da manhã, ele
finalmente desistiu de ficar revirando-se sobre os lençóis. Assustou-se com a
própria persistência, mas já estava farto de encarar o teto acima da cama. Mesmo
tendo plena consciência de que poucas horas de sono lhe restavam, respirou
fundo e levantou-se.
O chão estava gelado quando ele caminhou descalço até a
cozinha. E
– sabendo que não teria mais muito tempo para aproveitar boa parte
das coisas que lhe eram preciosas
–, concluiu que uma xícara de café no meio da
madrugada não faria mal nenhum.
O café era doce, mas o coração estava amargurado.
E a bebida favorita chegou a perder o gosto por quase um
segundo, quando ele não foi capaz de conter mais uma onda de pensamentos. Eram os
sonhos tornando-se possíveis. E os pesadelos também. Mas não queria, porém,
pensar neles. Nem nos sonhos; nem nos pesadelos. Mas nas realidades.
Uma fumaça tímida se desprendeu do líquido escuro na
xícara e passeou perto de seu rosto, quase que acariciando-o. Era um
incentivo. O sorriso foi inevitável quando ocorreu-lhe a ideia sonhadora de que talvez, se pudesse
falar, aquele café diria:
– Vá. E não desista.
(A um novo amigo, que merecia um presente de despedida)
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