terça-feira, 4 de setembro de 2012

O cheiro do café



Quando o relógio digital marcou quatro da manhã, ele finalmente desistiu de ficar revirando-se sobre os lençóis. Assustou-se com a própria persistência, mas já estava farto de encarar o teto acima da cama. Mesmo tendo plena consciência de que poucas horas de sono lhe restavam, respirou fundo e levantou-se.
O chão estava gelado quando ele caminhou descalço até a cozinha. E   sabendo que não teria mais muito tempo para aproveitar boa parte das coisas que lhe eram preciosas  , concluiu que uma xícara de café no meio da madrugada não faria mal nenhum.
O café era doce, mas o coração estava amargurado.
E a bebida favorita chegou a perder o gosto por quase um segundo, quando ele não foi capaz de conter mais uma onda de pensamentos. Eram os sonhos tornando-se possíveis. E os pesadelos também. Mas não queria, porém, pensar neles. Nem nos sonhos; nem nos pesadelos. Mas nas realidades.
Uma fumaça tímida se desprendeu do líquido escuro na xícara e passeou perto de seu rosto, quase que acariciando-o. Era um incentivo. O sorriso foi inevitável quando ocorreu-lhe a ideia sonhadora de que talvez, se pudesse falar, aquele café diria:
 Vá. E não desista.

(A um novo amigo, que merecia um presente de despedida)

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