Posso segurar a sua mão? Estou com um pouco de medo do
que o futuro pode estar escondendo. Pode me olhar com desdém e dizer que estou
sendo infantil – não seria a primeira vez. Mas eu apenas não quero que você vá
embora. Fica aqui essa noite, só pra eu não estar sozinha comigo mesma por
tempo demais. É que passei a madrugada passada tentando encontrar as perguntas
certas para as tantas respostas que eu recebi nos últimos dias. Demoro a dormir
com tanta coisa girando por minha cabeça. Não quero que aconteça novamente. E
você nem sequer faz ideia de quanto isso me consome.
Acho que todas as minhas lembranças rasgadas
estão se confundindo. A solidão é inevitável quando me pego a olhar para o
passado e ver tantas escolhas inúteis. E essa solidão, confesso, me apavora. É
estranho ter de atravessar a longa ponte que separa o que eu era e o que eu me
tornei. Cansei-me sinceramente dessas tardes cinzentas e sem pôr do sol que
venho sendo. Já sinto saudade do calor do verão. Do calor do amor. Do
calor do meu sorriso de menina. E do calor das palavras que não são mais ditas.
E se eu aparecer e dizer que ninguém nunca
conseguiu olhar-me nos olhos e interpretar meus pensamentos? Quem ousaria
desafiar-me? Não insulte meus preceitos. Acontece que o meu faz-de-conta é
muito mais real que muitas das suas falsas verdades.
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