Me peguei pensando no momento em que sairia do avião e
veria você me esperando. Ensaiei mentalmente o que fazer. E sussurrei para a
janela o que diria, tentando imaginar o seu rosto e a sura reação. Mas era
impossível prever você. Era tudo “talvez” a seu respeito. Era “talvez”,
inclusive, o fato de você me espera no aeroporto. Eu possivelmente teria de
pegar um taxi até o seu apartamento.
Fechei os olhos por um minuto e fui transportado de volta
no tempo. De volta àquela tarde sentado num café da cidade com um Dostoiévski
aberto sobre a mesa, uma xícara de chá ao alcance da mão. Eu não me lembrava do
que estava escrito nas últimas três páginas do livro. Não era àquelas palavras
que eu prestava atenção, mas às palavras que você me tinha dito minutos antes
de eu começar a lê-las.
– Eu tenho a minha vida, Tom. E você a sua. E as nossas
vidas estão separadas por mil quilômetros de distância! Você sabe que não estou
falando em sentido figurado. Quem de nós dois teria coragem de largar tudo? Não
será você. E não serei eu. Até quando pretende insistir nesse teatro? Eu não
sou pra você e nem você pra mim. Acho que você deveria sair por aí e encontrar
uma outra mulher enquanto eu pego um avião e volto pra casa.
E você se levantou, vestiu o casaco e saiu. A garçonete
me perguntou se eu queria mais alguma coisa e eu disse que não, obrigado,
estava de saída – mas eu queria, sim. E o que eu queria era algo que e só uma
pessoa no mundo seria capaz de me dar.
Quando voltei pra casa, você já tinha saído. “Mulher
teimosa!”, foi o que pensei, sem poder evitar um sorriso. Devo ter demorado
muito tempo para decidir ir atrás de você, era tarde demais. Concluí que seria
inútil dirigir até o aeroporto; porque quando eu chegasse, você já teria
partido. Então, ao invés de tentar resgatá-la numa correria desenfreada pelas
ruas da cidade, reservei uma passagem para o dia seguinte.
Enquanto isso, eu tinha duas ligações importantes para
fazer.
A primeira foi para o meu chefe. E a parte importante da
conversa foi a seguinte:
– Alô? Tom? – era a voz do meu chefe.
– Sim, sou eu.
– Em que posso ajudá-lo? – a voz não era de quem oferece
ajuda, mas de alguém incomodado pela ligação.
– Eu me demito.
A segunda ligação era para você, que a essa hora estaria
voando de volta pra casa. Deixei uma mensagem na caixa postal: “Querida, sou
eu. Reservei um voo para amanhã às nove. Espero poder vê-la no aeroporto. Há
algo importante que eu preciso dizer.”
Quando o avião pousou, você estava lá. Não pude evitar o
sorriso quando percebi que estava parada, esperando-me um ramalhete de flores.
Era seu jeito de pedir desculpas. Começou a dizer alguma coisa quando eu me
aproximei, mas fui rápido e consegui te silenciar com um beijo.
– O que pode ser tão importante a ponto de fazer Tom
Spencer faltar a um dia de trabalho?
– Pedi demissão.
Você sorriu seu sorriso estridente e despreocupado, mas
então percebeu que não era uma piada.
– E por que fez isso?
Ajoelhei-me ali mesmo, no chão do hall do aeroporto.
Algumas pessoas pararam para observar o que estava acontecendo.
– Quer casar comigo?
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