terça-feira, 24 de julho de 2012

Sobre duas almas distantes



“Sua chamada está sendo encaminhada para caixa de mensagens e estará sujeita a cobrança após o sinal...” Apertei o botão de desligar. Pela terceira vez. E imaginei o telefone tocando em qualquer outro canto da cidade, onde alguém que não queria ouvir minha voz o estaria encarando com impaciência. Talvez tivesse uma pergunta semelhante à minha: o que aconteceu? E também uma resposta irritantemente parecida: nada, apenas o fim.
Tentei novamente.
– Alô? – não era essa a voz que eu esperava. Não que outra pessoa falasse. Apenas faltava-lhe o entusiasmo de outros tempos. Como o som írrito de um silêncio tristonho, a voz era cansada. Não cansada pelo dia, mas pela vida.
– Alô. Sou eu – coisa imbecil de se dizer, mas era tudo o que eu tinha. Ensaiei minha vontade de perguntar o porquê de não ter atendido antes, mas a pergunta morreu na garganta. E, quase ao mesmo tempo, alguma coisa morreu no peito.
– Está tudo bem? – não que de fato quisesse saber.
– Como deveria estar. E com você? – essa distância entre duas almas, outrora tão próximas, era a prova de um sentimento que se tornara outro: menor, pior, distante.
– Da mesma maneira. Nos vemos amanhã? – novamente, a falta do entusiasmo esbofeteando-me a face.
– Talvez eu apareça, ainda não sei – não que eu estivesse ocupada. Era o meu medo de ser forçada a olhar para aqueles olhos metediços uma vez mais; e esta vez tornar-se a última.
– Estarei aqui – sem abraço, sem beijo, sem saudade: mas esperando.
­– Certo. Tchau – onde estava a minha vontade de dizer “eu te amo”?
­– Tchau – e onde estava a dele de amar-me?
Desliguei o celular corajosamente, com a certeza de que tinha algo mais para perguntar.  E muitas, muitas outras coisas para dizer. Eu queria saber expressar-me melhor com o meu silêncio. Mas nunca houve no mundo alguém capaz de explicar-se e ser entendido.
Tão grande era a minha vontade de ficar parada; e esperar o momento em que alguém chegaria esbanjando um vocabulário peculiar qualquer, com sotaque diferente, e me dar um bom motivo para sair e encarar a luz do sol, a cor do dia, o cheiro do mundo. Mas os meus pés calejados extenuaram-se depois desse tempo todo caminhando por terras áridas a procura de campos floridos. Meus olhos frustrados deixaram de ver a saída dessa algazarra que é a realidade. Por um momento chego a até ser alérgica a batalhas infundadas e duelos ilusórios com um eu que existe dentro de mim e eu desconheço.
Não sei quanto tempo demorei pra decidir que a decisão da minha vida estava para ser tomada.
Saí por aí, dirigindo sem rumo. Parei num bar aberto de madrugada; naquela hora em que as pessoas já estão indo embora e as cadeiras estão começando a ser colocadas em cima das mesas. Pedi uma dose e, com ela, engoli minha timidez. E me vi a procurar – no fundo do copo e naquele balcão sujo de um bar ordinário de subúrbio – exatamente aquilo que você me nega.
E um constante questionamento teimava em atormentar-me: será que estou fazendo as escolhas certas pela pessoa errada?

4 comentários:

  1. Uau!, Larissa! Que intenso! Parabéns pela postagem e por seu blog! Abraço! Com tempo, venha ler e comentar O SONHO DE DOROTÉIA, a passiva http://jefhcardoso.blogspot.com/

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    1. Jeferson,

      Muito obrigada pela gentileza de comentar o texto! Fico feliz que tenha gostado!
      Vou agora mesmo dar uma olhada no texto que me recomendou...
      Volte sempre que desejar :)

      Larissa S.

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  2. Arrasando como sempre hein... Me identifiquei... Não sei porque... Hehe
    Ass: Luiz

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    1. Luiz, sempre um cavalheiro!
      Obrigada pelo comentário, querido :)

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